Thursday, June 19, 2008

Compra-se a dor da certeza com ansiedade nos olhos, e quando se vê, não é bem o que parece. Quem ousa a ter certezas no mundo de hoje, onde sorrisos fáceis nem sempre são sinônimo de alegria espontânea? Quem, mesmo que erroneamente, se atreve a viajar apenas para dentro de si, sem medo da auto-referência, a ignorar as influências externas? Quem faz da vida um grande caminho, um caminho de luz, aprendizado e sabedoria, não deixa que o orgulho preceda a razão, pois sabe que chegará o dia pelo qual valerá à pena viver. E valerá à pena morrer! Viaja, conhece, degrada a própria existência, prova a dor para desfrutar da doçura.
Mas vivemos num mundo mutante, a constante transição entrega a carência como opus máxima dessa geração, a geração autônoma e independente, dos apressados que compram certeza com ansiedade nos olhos e temor ao menor desvio de uma módica linha reta. A geração dos fracassos precoces e da vida vazia. Serão todos generais, mas não teremos soldados para assumir um lugar no confronto final. Seremos todos no mundo os verdadeiros discípulos de uns líderes mesquinhos?
Quero ver quem tem coragem para querer ser um nada; ninguém nos ensina a ter como meta de vida ser sorveteiro ou vendedor ambulante, o sucesso fala mais alto e traz consigo a disposição para ser mau caráter, para subir em cadáveres sociais como quem escala a montanha da própria ascensão profissional. Quem aqui nunca concedeu um perdão com raiva no sangue, passando por cima dos próprios valores? Esse perdão também corrompe. O alimento da própria indulgência de quem nunca jogou para perder. Eu jogo para perder! Quem dirá que sucesso e fracasso são os dois lados da mesma moeda? A moeda da vida de quem compra sonhos vazios e se apega aos desejos dos outros, os desejos do espelho e da falta da própria coragem. Os que fogem da vida selarão tréguas constituidas de ódio, serão forasteiros da própria existência aplaudindo sentados o rio de ruínas construído de idéias herméticas e imutáveis, ironicamente em um mundo em franco movimento.
O ser humano se esqueceu da virtude do mundo: tudo tem dois lados. Nos esquecemos da época em que os deuses eram a chuva e o sol, deixamos de lado a fé inabalável em Deus para acreditar apenas no que o homem diz que Deus é. O Deus dos homens pode valorizar o sucesso, a vitória e a exclusividade, mas o meu Deus não cobra dízimo, não manda matar, não manda comprar-me certezas, não me quer como líder mesquinho num mundo sem humildade. Outra vez nos esquecemos de que o mundo é ambíguo, e essa dualidade é o que faz ser belo o querer estar onde não se pode, talvez praticando o oposto de quando se pode e não se quer mais... Ninguém vive só de sucesso ou só de fracasso, ninguém vive sozinho sem levar em conta o que os outros dizem de si. Cabe a nós, à medida que a areia escorre pelo funil de vidro, sermos um pouco mais vívidos, prolíficos, autônomos porém mútuos; sermos um pouco mais disso tudo, certos e errados, líderes e liderados, sonhadores até realistas, racionais e emocionais, seres simultâneos a fazer jus do gerúndio, indo em diante, ou para trás, mas sempre indo...

* Outro texto que estava no orkut e conquista seu espaço aqui no blog. Talvez o meu favorito dentre todos os outros, o mais espontâneo e imediatista, cheio de referências, como Joy Division, Amir Klink e até mesmo um certo trecho de Anjos e Demônios... enfim, referência e reverência à vida, o mesmo descontentamento de sempre com as causas vazias do hoje e uma total alegria em perceber que, sim, eu sou apaixonado pelas minhas frustrações!

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