Friday, January 25, 2008

Holden Caulfield, um Lago, alguns Patos e Sentimento

Me lembro bem que, quando li "O Apanhador no Campo de Centeio", fiquei muito tocado com a passagem onde o Holden, personagem principal, se pergunta para onde vão os patos do lago do Central Park quando chega o inverno. Se alguém os tira de lá, se alguém os acomoda em outro lugar, se eles voam embora...
Vi essa questão na época como algo que vai muito além da preocupação com o fato de que os patos não resistiriam às condições do clima; vi nesta passagem um questionamento feito por alguém que sente que perdeu muita coisa, que se pergunta se existe de fato alguém por aí que enxergue este mundo, que entenda seus sentimentos e a importância desses momentos singelos e angustiantes para as decisões da vida mundana.
Lembrei disso recentemente, de maneira muito nostálgica. Lembrei quando vi a mim mesmo caminhando sozinho há uns dias atrás ao redor de um laguinho, embaixo de chuva, enquanto esperava uma pessoa muito querida. E lá estavam os patos, apenas eu e eles, o lago (ou "espelho d'água, como essa pessoa prefere chamá-lo), a chuva, e a ansiedade da espera. E então me perguntei porque é que lá estavam os patos, embaixo de chuva, se eles podiam muito bem se cobrir? Porque é que ninguém os tirava de lá? Será que alguém se importava com eles?
Senti como se coisas pequenas importassem muito pra mim. E importam. Esses momentos únicos, que produzem sentimentos profundos, marcam para sempre. Caminhar sob a chuva ao lado de alguém especial ou sozinho com seus pensamentos, procurando entender o que o mundo significa para nós. Porque o mundo é o que você sente, e o que você sente está contido nesses momentos.
Você tem razão Flávia, o lago é mesmo um espelho d'água, e eu me olho no espelho e me vejo sensível, um menino-crescido que não sabe se a gota que cai vem do céu ou dos olhos, e me pergunto se aqueles patos são de verdade ou apenas uma ilusão para que eu me lembre da infância, dos passeios ao zoológico, dos sentimentos primais de amor e carinho; será que representam os amigos que perdi ou os que ainda virão? Será que representam os meus sentimentos, tanto os de arrependimento quanto os de conquista e alegria, que residem em mim sob sol ou chuva, no calor ou no inverno?
Pensar nisso tudo é uma experiência fantástica. Mas diferente de Holden Caulfield, não penso nisso porque sinto que perdi muita coisa. Penso nisso porque sinto é que ganhei muita coisa. Ganho com as experiências, impressões, sensações, nostalgia. Lembranças, realidades fantasiosas, ser homem e também criança, visões de futuro. E a companhia de alguém especial, querida, que é a Flávia e que eu espero que compartilhe sempre caminhadas ao redor de um laguinho, se perguntando junto comigo para onde vão os patos quando chega o inverno...

3 Comments:

At January 25, 2008 11:06 AM, Blogger Flávia Mello said...

Lagos,espelhos d'água,ou oceanos...infinitas formas de olhar para dentro de si ,sem aquela ingenuidade narcisista dos que preferem ver só o belo, sem ver o real,que nem sempre é tão agradável aos olhos da alma...a água é mesmo o maior dos espelhos...reflete a alma,o corpo e faz refletir sobre a vida!
Anjo,espero q vc continue pelas suas caminhadas reflexivas pelos lagos e pela vida a fora...
Espero poder participar de algumas delas...espero estar sempre por perto...e sendo gotas ou lágrimas, espero ser umedecida por elas junto a vc...
Parabéns e obrigada sempre!
beijos

 
At January 25, 2008 11:10 AM, Blogger Pedrinho said...

Nossa cara to aos prantos aqui!!!!!

Mais uma vez você mostrou sua genialidade!!!Parabéns....preciso ler o esse livro!!!hahah

um grande abraço

 
At January 25, 2008 4:58 PM, Blogger Unknown said...

Ô menino, você e sua capacidade de emocionar a Ritinha com sentimentalismo traduzido em palavras fabulosas!!!Ah, que coisa boa...
Parabéns, parabéns e parabéééns!

Os detalhes pequeninos, espelhos dágua, o viver, a tal "essência"... (sempre me lembro dela)

Menino raro, continue a escrever, pelamordedeus!rs

Beijãozão!

;)

 

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