Wednesday, June 24, 2009

O Futuro do Medo e as Expectativas

Em 2009 o famoso carnaval de rua de Cambuí-MG serviu como palco de testes para uma novidade prestes a se tornar cada vez mais comum em nossas vidas: a vigilância e o monitoramento 24h feito por câmeras de segurança instaladas em ruas e outras áreas de aglomeração. O Jornal Sul de Minas, em 14 de fevereiro de 2009, publicou matéria alegando que tal recurso “proporcionou prevenir tumultos e brigas, com a identificação dos cidadãos infratores, dando uma sensação a todos de maior segurança”.
Por outro lado, segundo o tablóide inglês The Sun, uma britânica abriu um processo de divórcio ao flagrar o carro do marido à porta da casa de uma amiga, através de uma ferramenta do Google Earth chamada Google Street View, que permite que internautas naveguem por câmeras espalhadas pelas cidades e monitorem pontos de interesse. A ferramenta, desde seu lançamento, gera controvérsia e algumas manifestações de repúdio por ferir de certa forma a liberdade alheia.
É de se espantar que haja tamanha tecnologia disponível para que ruas sejam vigiadas indiscriminadamente, ainda que a finalidade seja apenas algo entre a curiosidade, a simples demonstração de possibilidades tecnológicas ou a real segurança da população.
Mais espantoso ainda é a maneira como cada vez mais o ser humano tem se mostrado familiar com essas questões; George Orwell jamais – jamais – poderia imaginar que o Grande Irmão, personagem onipresente de seu mais famoso livro, iria se tornar o título de um programa de TV há muito datado, que apenas explicita nosso desejo de voyerismo, curiosidade, invasão de privacidade e bisbilhotisse. Programas como Big Brother apenas atestam nossa capacidade de se familiarizar com a perda gradual de liberdade quando a questão é vigiar – ou, no caso do mundo real – “aumentar a segurança”. Esse fato poderia ser comprovado com uma simples pesquisa, pois em qualquer ambiente onde existam relações humanas, vão haver pessoas dispostas a perder uma parcela de sua liberdade e individualidade em troca da promessa de segurança que as câmeras de vigia proporcionam.
A liberdade, o direito primal do ser humano, morre dia após dia pelas mãos dos empresários que monitoram suas empresas através das ditas câmeras, através de hóspedes que se submetem a se hospedar em hotéis que utilizam o mesmo recurso, de carnavalescos que não se incomodam de festejar diante dos vigilantes e também através dos curiosos que observam do conforto de seus lares os locais onde possivelmente alguém estaria a te sacanear.
O conforto é desconfortável. Identificadores de chamada, lei seca, sirenes de entrada e saída nas escolas, todas lado a lado a nos fazer um grande favor: diminuir nossa necessidade de opinar, de avaliar possibilidades e arcar com as consequências de nossos atos. Acabou-se nosso direito de decidir se devemos ou não fazer tal coisa. Tal direito se esvai pois o livre arbítrio é cerceado por, por exemplo, leis de trânsito que, no fim das contas, colaboram com o aumento das mesmas taxas que visavam reduzir. Não há alternativa.
Em psicologia, há um termo conhecido como Efeito Pigmaleão que, em linhas gerais e se baseando no mito grego homônimo, diz que as nossas altas expectativas a respeito de um determinado bom comportamento de um certo indivíduo acabariam por causar neste indivíduo a intenção de agir exatamente de acordo com essa expectativa, à medida que as pessoas supostamente se esforçam cada vez mais para estar compatíveis com o que de melhor esperamos delas. Pouco a pouco, nós, sábios seres humanos, estamos compactuando com um processo diametralmente oposto: sempre esperamos o pior de nossos semelhantes, necessitando sempre controlá-los e cercá-los para que o livre arbítrio alheio não nos machuque ou interfira em nossas vidas, e, com isso, o resultado não poderia ser outro a não ser colher os frutos podres do chão, pois ninguém mais se esforça para melhorar. Elas – as pessoas – são apenas o pior que elas podem ser, manipuláveis, desajustadas e assustadas, que, por infeliz coincidência, acaba sendo exatamente aquilo que esperávamos delas.

*Segundo a mitologia grega, Pigmaleão era um escultor e rei de Chipre que se apaixonou por uma estátua que esculpira ao tentar reproduzir a mulher ideal. Na verdade ele havia decidido viver em celibato na Ilha por não concordar com a atitude libertina das mulheres dali, que haviam dado fama à mesma como lugar de cortesãs. A deusa Afrodite, apiedando-se dele e atendendo a um seu pedido, não encontrando na ilha uma mulher que chegasse aos pés da que Pigmaleão esculpira, em beleza e pudor, transformou a estátua numa mulher de carne e osso chamada Galatéia, com quem Pigmaleão casou-se e com quem teve um filho chamado Pafos.
O mito de Pigmaleão, como outros, traduz um elemento do comportamento humano: a capacidade de determinar seus próprios rumos, concretizando planos e previsões particulares ou coletivas. Em Psicologia deu-se o nome de Efeito Pigmaleão ao efeito de nossas expectativas e percepção da realidade na maneira como nos relacionamos com a mesma, como se realinhássemos a realidade de acordo com as nossas expectativas em relação a ela.
A lenda de Pigmalião tem atraído vários escritores. O antigo poeta romano Ovídio contou essa lenda em sua obra Metamorfoses. A versão mais moderna da lenda é a peça de Bernard Shaw, Pigmalião, ou My Fair Lady. A peça é também um musical.
(Fonte: Wikipedia)

0 Comments:

Post a Comment

<< Home