Friday, August 22, 2008

Lembrança de um Dia de Outrora

Deu saudade. Achei num baú velho aquela toalha que nem sei de quem era, mas igualzinha àquela que, às vezes, ela usava. Toda surrada, com cara de que vinha sobrevivendo desde os idos da infância, com bordados nos cantos de flores e cavalos-marinhos. Não, nunca que seria propriamente a dela, não mesmo. Nunca esquecia nada comigo, a não ser quando esquecia de propósito, apenas para poder voltar e me ver. Sinto saudades dela; essa é a vantagem de hoje em dia ser sozinho. Sem sofrer represálias posso fantasiar que ela está a chegar ou que ainda está por aí, em casa, como se nada tivesse mudado...

Friday, August 01, 2008

Novo Perfil do Orkut (Obrigado Orkut por não me permitir a postagem!)

É batata. Estou numa roda de amigos e ou acabo - para infelicidade minha, no fim das contas - dando um bom conselho, ou fazendo uma gentileza qualquer. Alguém de cara lambida sempre acaba soltando aquela pérola infernal: "que Deus lhe dê em dobro". Ótimo, era tudo o que eu queria. Ser confundido com alguém que aparenta fazer tudo o que faz apenas para receber algo em troca (e, pior, em dobro!). Será que a pretensão é assim tão evidente nos dias de hoje para ter se tornado uma premissa inquestionável? Não quero nunca nada em troca. Muito menos em dobro. Se quisesse mesmo algo em troca, iria querer apenas a quantia equivalente, justa. Nada mais, nada menos. Mas pelo contrário, cada dia que passa quero menos. Quero menos encheção de saco, menos picuinhas, quero cada vez menos ter que lidar com certos tipos de pessoa cuja presença no mundo beira o intolerável.

Pode parecer mau humor da minha parte (e quem acredita nisso infelizmente já está metade certo), mas sabem o que é? É que é meio constrangedor quando você se dá conta que ainda faz parte de uma geração em parte empobrecida, em parte impotente e lamentavelmente despreparada.

É meio deprimente ver todos ocupados, firmemente indignados com o caso da criança que ganha status de mártir por ter se espatifado no chão duro; é meio triste constatar que o poder da força emplaca hits goela abaixo e a "desobrigação" das novas tendências determina a todos que vivam conforme a batuta de um bosta de um maestro que acha que a vida é uma grande novela das 8. É bastante lamentável perceber que mesmo quem se diz indignado com os casos escabrosos da TV acaba por fim aceitando pagar as tarifas de "recadastro" e outros serviços de banco que prometem inovação e comodidade, ainda que esses serviços não tenham sido requisitados e isso tudo seja obviamente um engodo.

Uma ditadura determinada pela estupidez humana, cujo grande trunfo é produzir bandeiras, rótulos de produtos imperativos e estilos de vida ridiculamente chatos. O resultado? Não se acredita em mais nenhuma palavra vinda de ninguém, mas muitos conselhos ainda hão de ir e vir. Faça isso, use aquilo, seja o que você quiser ser. Ninguém jamais se importará, mas sem que você ao menos perceba, a sua vida pessoal já tomou proporções astronômicas, a vida pública é um teatro de fantoches que não faz distinção entre o que você quer ou não tornar público e o partidarismo, a defesa ferrenha dos próprios achismos, emplaca a vertente que agora é hora de se livrar de todas as obrigações.

É só olhar em volta: o namorado da sua melhor amiga era um baita de um carola, o sujeito perfeito. Eles até iam se casar e tudo o mais, mas bastou que ele terminasse com ela por um motivo irrelevante qualquer para então correr até a internet e criar um novo perfil no Orkut. Agora sim, ele tem acesso ao mundo de oportunidades que as fotos bonitas oferecem. Hoje ele não passa de um guri que, durante muito tempo, perdeu a chance de manter um contato saudável com amigos, pessoas reais e interessantes para, agora, viver de pedir o MSN de toda mulher bonita que encontra. Certamente ele culpa o todo o mundo por seus insucessos, e também os seus colegas pelas restrições que ele impôs a si próprio.

Olhe um pouco mais: os CDs da Danni Carlos estão em todas as lojas, sendo vendidos sob o rótulo de rock internacional. Você vai a um bar novo, que "abriu agora, é a maior sensação!", o exato bar que ai ficar lotado por dois meses como se fosse o último reduto dos descolados de plantão, e depois disso ficará às moscas porque, na verdade, a falta de educação do dono e dos garçons não conseguiu conquistar como cliente nenhum otário que se preze. Aí você faz um cadastro num site qualquer e logo em seguida recebe a mensagem de que "seu cadastro ainda NÃO foi ativado, obrigado!". Mas não me agradeça por algo que eu faço por obrigação. Se eu espero a ativação, é porque sou um cretinasso que acredita que isso tudo ainda pode mudar.

Dá quase vontade de enxergar que a gente, sozinho, daria mais conta de enfrentar esse lixo todo. Dá vontade de não retornar as ligações de amigos que a gente acha que são bola fora. E a gente morre um pouco por dia quando se liga em toda essa porcaria. A gente morre um pouco por isso da mesma forma que a gente morre um pouco por dia quando toma um puta fora, quando perde um amigo, quando um sonho ou plano nosso dá errado. Mas a gente só morre de verdade quando a gente perde a fé e a esperança. Então eu vou continuar sendo um cretinasso que acredita que isso tudo ainda pode E VAI mudar, que continuará a achar graça em si mesmo a cada vez que o mau humor bater à porta, que ainda vai dizer amém a cada vez que me desejarem algo em dobro.

Idealismo é isso aí, é parecer um grande reclamão e pessimista aos olhos da maioria, mas entender que no fundo é isso que faz a gente ser um otimista, que sabe que se supera tudo isso e muito mais, que sabe que o isolamento é infrutífero e gera julgamentos desenfreados. É ser até mesmo um realista sonhador, que sabe que perder tempo escrevendo coisas que a maioria não tem tempo de ler é, no fundo, um ganho pessoal e tanto.

Não há limites para a mente humana. Voamos tão longe, tão alto, sonhamos tanto... que até mesmo nossos próprios limites foram inventados por nós. Nossa própria prisão autônoma, nossa mente; que sonha tão longe mas que sempre se incumbe de nos limitar. Afinal, a infelicidade é produtiva. O infeliz trabalha e batalha em dobro por aquilo que acredita querer. Carrega tijolos, processa bandidos, constrói edifícios e cura doentes. Doentes que são outros infelizes que, de tanto carregar tijolos, processar bandidos e construir edifícios, se esquecem de que a vida é aqui e agora e acabam sucumbindo às falências do corpo e da mente.
Não sei vocês, mas eu fui ser feliz e já volto. Os limites da mente serão os limites da alma, limites que nada têm a ver com produtividade, mas sim com a satisfação pessoal. Afinal, estar aqui porque se quer nada tem a ver com o limite fictício de se estar aqui porque é preciso. Ninguém precisa de nada, a não ser daquilo que é esencial. Amor próprio, família, espírito livre. Deixo que os insatisfeitos produzam em dobro e se encerrem em si mesmos, se assim for o desígnio. Eu fui ser feliz, e querem saber? Nem sei se volto...

"Construímos paredes demais, mas não construímos pontes o suficiente." (Isaac Newton)