Thursday, July 10, 2008

Quando a Guerra Acabar

Á beira do cais das dores, estou sozinho. Será que ainda restou algo a se ouvir? Não sei. Faz tempo, já não escuto mais. Haveria pois o que se ver? Já não enxergo também. Minhas companhias de hoje são apenas as almas penadas (ah, fantasiosas lembranças) de outrora.
Maldita guerra, levou tudo de nós. Decerto, também, que ninguém escutou. Assim mesmo tanto a espada como o escudo foram pegos, mesmo sabendo que, nesse caminho, o que se leva consigo é o que sempre se recebes em troca! Lustrasse o escudo, pois, e deixasse a espada. Deixasse até mesmo o escudo! Ao menos assim encontraria o destino sob pena nenhuma! Que dirá sob a pena de fazer para os outros o que fora feito até mesmo consigo. Eu mesmo não escutei.
O que sobra quando a guerra acabar? De novo não sei; talvez ninguém saiba. Guerra nenhuma nunca acabou. Mas, contra quem, diabos, lutávamos mesmo? Tremei, afinal somos bárbaros todos. Despertas, percebe que luta sempre houve. E fora sempre contra nós mesmos (quem não sabe o que quer sempre entra em conflito).
Todavia uma luta de cegos e surdos desesperados, perturbados, gente que tinha por sonho com soltura e leveza viver sempre. Sem obrigações. Gente que guardou bem demais o que não presta e ainda teima em desperdiçar o que é bom. É chegada a hora de explicar tudo duas vezes. Para quem não enxerga e não escuta, tudo parece ser o que não é. Mas para cegueira e a tal surdez não há reparo, aceita enfim que fim, esta guerra não verá. A vida é irreversível - a gente precisa saber não tentar voltar atrás.
O último bastião, o cais. O dia eterno. A descoberta de que tentar resgatar algo que se supõe perdido é justamente o que faz com que se perca o que nunca se perdeu; não há resgate possível. Afinal, para nós surdos e cegos, deveria ser claro que guerra alguma se decide pelo que se conquista, mas sim pela maneira que se aceita aquilo que, enfim, se perde. O que sobra, pois, saberemos depois que sobrar. Se sobrar.